Jovem Pan > Opinião Jovem Pan > Inovação feminina: o poder transformador da auto inovação e o impacto das mulheres na nova economia
Segundo o relatório Women in Tech 2025, organizações com maior representatividade feminina em cargos de liderança têm 30% mais chances de alcançar excelência em inovação e resultados financeiros superiores
- Por Helena Levorato
- 16/10/2025 10h54
Arquivo Pessoal
Helena Levorato, neurocientista e CEO da Sociedade Brasileira de Inovação
Há alguns anos, ao conduzir uma pesquisa sobre os fatores determinantes para a inovação disruptiva no Brasil, me deparei com uma descoberta que transformaria minha trajetória profissional: por trás de cada grande inovação moderna, havia algo muito mais profundo do que apenas tecnologia ou capital. Havia pessoas que tinham, antes de tudo, desenvolvido a capacidade de se adaptar e se reinventar nesse mundo que muda o tempo todo e que, de certa maneira, tinham uma capacidade de visão de futuro mais apurada e os projetos mais bem sucedidos exerciam maior sensibilidade na construção das suas ideias. Foi esse insight que me levou a criar o Movimento Mulheres que Inovam e, desde então, tenho testemunhado uma verdade incontestável: a inovação feminina não é apenas necessária nesse contexto da nova economia, mas, para além disso, ela é o motor de transformação que o Brasil precisa para competir globalmente.
Inovação é, acima de tudo, uma jornada humana, emocional e profundamente feminina. O que chamo de autoinovação, ou seja, a nossa própria capacidade de nos renovar e nos reinventar continuamente, é o alicerce sobre o qual toda transformação significativa é construída. Não se trata de um conceito abstrato, mas de uma competência estratégica que observo diariamente em mulheres que lideram projetos revolucionários em todo o país.
Essa capacidade nem sempre é herdada e quase nunca é um dom, mas na maior parte das vezes, ela nasce da necessidade. As mulheres brasileiras, historicamente excluídas dos espaços de poder e decisão, desenvolveram uma resiliência única. Aprendemos a inovar não apenas em produtos ou serviços, mas em nossas próprias narrativas, em nossas formas de liderar, em nossa maneira de ocupar territórios anteriormente negados a nós.
Durante a minha trajetória como palestrante em fóruns nacionais de inovação, uma pergunta sempre emerge: por que investir especificamente em inovação feminina? A resposta está nos dados e nos resultados concretos que empresas e ecossistemas inovadores têm apresentado quando abraçam a diversidade de gênero.
Segundo o relatório Women in Tech 2025 da Deloitte, organizações com maior representatividade feminina em cargos de liderança têm 30% mais chances de alcançar excelência em inovação e resultados financeiros superiores. Não se trata de uma questão ideológica, mas de uma vantagem competitiva mensurável e realmente estratégica.
Entretanto, o Brasil ainda patina nesse avanço. A participação feminina em posições de liderança no setor tecnológico não ultrapassa 20%, um número que nos coloca em desvantagem frente a economias que já compreenderam que inovação sem diversidade é inovação limitada no seu alcance e crescimento. O fato é que estamos deixando na mesa não apenas talentos, mas milhões e milhões de reais em potencial econômico inexplorado. Mas há uma outra camada que os dados não capturam completamente: o impacto cultural. Quando as mulheres lideram processos inovadores, elas trazem perspectivas que desafiam o status quo, questionam premissas estabelecidas e criam soluções que atendem a demandas historicamente negligenciadas. A inovação feminina não replica padrões, ela transforma projetos em soluções sustentáveis, responsáveis e que beneficiem toda a sociedade.
Movimento Mulheres que Inovam: da visão à ação coletiva
Foi justamente nesse gap entre potencial e realidade que idealizei o Movimento Mulheres que Inovam, um movimento que nasceu dentro da Sociedade Brasileira de Inovação. A proposta era ambiciosa: criar um ecossistema onde mulheres de todo o Brasil pudessem não apenas aprender sobre inovação, mas se tornarem as futuras líderes de inovação nesse país, gerar riqueza e movimentar a economia com projetos de impacto.
O que começou como um programa piloto há pouco mais de um ano, tornou-se uma das maiores comunidades de inovação feminina do país, com mais de 3 mil integrantes ativas. Essas mulheres são verdadeiras agentes de transformação em suas empresas, comunidades e setores. Elas participam de programas de mentoria estratégica, acessam conteúdos exclusivos desenvolvidos por especialistas nacionais e internacionais, e conectam-se através dos eventos presenciais que acontecem em todo o Brasil, o Summit Mulheres que Inovam.
Recentemente, em uma conversa com uma das mentoradas do nosso programa, uma engenheira que lidera a transformação digital de uma multinacional brasileira, ouvi algo que resume o impacto dessa rede: “Pela primeira vez na minha carreira, não me sinto sozinha. Aprendi que a minha voz importa, que minhas ideias têm valor, e que existe um exército de mulheres dispostas a construir junto comigo.” Isso quer dizer que, quando mulheres criam redes de apoio autênticas, elas não apenas sobrevivem aos desafios, mas transformam esses desafios em verdadeiros trampolins.
A inovação feminina se distingue por características que vão além do domínio técnico. Observo em nossas líderes uma curiosidade insaciável, aquela que não aceita respostas prontas e está sempre questionando “por que não?” Essa curiosidade se alia à coragem de tentar, mesmo em territórios incertos, ainda que os recursos sejam escassos e o ambiente hostil.
Quando as mulheres lideram movimentos inovadores, o impacto transcende os indicadores de negócios e reverbera na cultura organizacional, na educação das próximas gerações, nas políticas públicas e na própria estrutura social. Estamos falando de uma transformação sistêmica, não incremental.
Em minhas palestras pelo Brasil, costumo provocar plateias executivas com uma questão incômoda: quantas decisões estratégicas as suas organizações tomam sem a perspectiva feminina na mesa? E quantas oportunidades de mercado vocês estão perdendo por isso? O silêncio que segue essa pergunta é sempre constrangedor.
O futuro da inovação será inevitavelmente diverso, colaborativo e plural, não mais pautado na competição. As mulheres têm um papel não apenas importante, mas decisivo nessa construção.
A pergunta que nos mobiliza não é mais se as mulheres podem inovar, isso já foi amplamente respondido. A pergunta urgente é: estamos dispostos, como sociedade e como nação, a remover as barreiras que ainda impedem que esse potencial se realize plenamente?
Convido cada líder, cada organização, cada pessoa comprometida com o futuro do Brasil a se juntar a nós nessa jornada. Juntas, estamos construindo a inovação que o nosso país merece, a inovação que gera prosperidade e oportunidades para todos.
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